Nesta seção apresentamos uma compilação dos textos que foram publicados no Instagram da Brada desde seu início (2020). Alguns dados podem estar datados, mas achamos importante juntar esse material produzido aqui no site para possíveis consultas! A autoria dos textos é coletiva das nossas integrantes ativas. Nossa ideia é alimentar aqui como um núcleo de reflexões, uma vez que existem diferentes formas de ver e realizar o audiovisual. Esperamos colaborar com os processos de toda a classe.

#QUEM FEZ DIREÇÃO DE ARTE

Existe uma questão que permeia a brada desde o seu início que é a visibilidade da direção de arte e a compreensão real do que se faz nesse complexo departamento. Já tratamos aqui muitas questões de forma educativa sobre os processos desde a concepção, pesquisa, produção, execução e desprodução, e o quanto isso é essencial na construção da cinematografia. Infelizmente ainda é uma realidade a não valorização da função principalmente por parte dos colegas de profissão.

Na reunião que participamos no PDC @productiondesignerscollective tivemos uma surpresa ao ouvir relatos muitos parecidos de outros cantos do mundo. Durante o debate, uma ação foi unânime: precisamos fazer um esforço educacional para que as pessoas finalmente compreendam o que é feito no departamento. Não enxergamos outro caminho possível para terminar com essa invisibilidade. O audiovisual é uma obra coletiva feita de contribuições onde todas as peças importam. Não adianta focar apenas em parte do processo, é preciso reconhecer o todo, todas as equipes!

Ainda ressoando o que ouvimos na reunião, resolvemos lançar pelo Instagram da brada uma campanha nas redes sociais que procura trazer mais luz a essa questão. Inspiradas nas falas da Miranda Cristofani, da ADG USA, que propõe a utilização de uma # comum para identificar e questionar conteúdos nas redes sociais que omitem o reconhecimento do trabalho da direção de arte, lançamos o #quemfezadireçãodearte juntamente com o #whoistheproductiondesigner.

Convidamos a todes colegas de classe a usarem a # buscando chamar a atenção dos produtores de conteúdo para essa questão sensível.

#quemfezadireçãodearte – uma iniciativa da @bradacoletivo pela visibilidade dos profissionais da direção de arte e da importância do departamento para a construção audiovisual

O QUE FAZ A EQUIPE DE ARTE FORA DO SET DE FILMAGEM?

O departamento de arte é enorme e muitas vezes questionado sobre seu tamanho. Ao mesmo tempo, vemos sempre essas pessoas correndo, esbaforidas e sem folgas. São produtoras, assistentes, ajudantes, aprendizes…. mas o que realmente esse grupo faz durante o filme?

Para um filme acontecer diante das câmeras, ele precisa ser preparado antes da equipe de filmagem chegar e desmontado após a finalização de cada set. Se estamos falando de um projeto longo, como longa ou série, o trabalho da equipe de arte em vários momentos acontece de forma contínua e simultânea: enquanto estamos filmando em um lugar, a arte normalmente está montando o que será filmado amanhã em outro lugar e desmontando o que foi filmado ontem num terceiro set, além de se fazer presente durante a diária. Assim fica compreensível que se precisem de muitas pessoas!

Isso nos permite desenhar um esquema de trabalho da equipe de arte: Conceber – Pesquisar – Produzir – Montar – Filmar – Desmontar – Desproduzir. E esse modelo se repete a cada ambiente do filme, simultaneamente e em fases distintas. É uma logística e tanto! E para que tudo funcione, o departamento de arte tem dois grupos de trabalho macro: a Equipe de Frente e a Equipe de Set. Cada grupo tem pessoas de todos os setores – produção de arte, objetos, assistentes, ajudantes, efeitistas, figurino, make…

Essa logística é um trabalho fundamental que precisa ser feito com muita atenção e também com muito jogo de cintura para acompanhar mudanças e imprevistos diários e também no plano de filmagem, frequentes demais nos projetos.

Na equipe de frente, todos estão empenhados em planejar e preparar o que virá nas diárias seguintes para depois desmontar e desproduzir o que não será mais utilizado. Esse grupo costuma não receber a justa visibilidade durante as filmagens, quando as atenções costumam se voltar apenas para onde está a câmera.

Mas é preciso estar atento às demandas da equipe de frente para que eles tenham boas condições de trabalho e possam executar as tarefas da melhor forma, pois sem frente hoje, não haverá set para filmar amanhã!

Lembramos que não é só a equipe de arte que tem equipe de frente trabalhando para acontecer o set!

O QUE FAZ A DIREÇÃO DE ARTE NO SET DE FILMAGEM?

O cenário está finalizado, os props todos definidos, as caracterizações aprovadas. E agora, o que faz a direção de arte durante um set de filmagem?

Apesar de todos os acordos e definições feitos na pré-produção, durante a filmagem as coisas acontecem de verdade. É o momento onde a câmera enquadra e define o que vai ou não aparecer no filme, como e onde cada ação vai acontecer nessa relação espaço X personagem X dramaturgia.

A cenografia deve ser pensada de acordo com a narrativa que vai acontecer ali. Mesmo filmagens em locações são pensadas e montadas em razão do que vai acontecer no espaço, podendo agregar muito simbolismo e ampliando a contextualização de cada ação para um universo muito mais complexo.

A direção de arte está no set para propor a ocupação desse espaço durante a execução da cena para a câmera, para complementar a composição de cada quadro em seu melhor aproveitamento, para colaborar com soluções estéticas e práticas para os problemas que surgem (e muito!) durante cada diária. Vários ajustes por questões de tempo e imprevistos são sempre necessários, e nesse ponto a presença da Direção de Arte é de grande valia para ajudar a propor as melhores estratégias de execução das cenas, auxiliando a pensar também a melhor forma de aproveitar a diária sem perder de vista o conjunto visual final pretendido para a obra.

As filmagens, normalmente, são momentos muito tensos, uma corrida contra o relógio para cumprir o que foi proposto. Por isso, cada função técnica está lá presente para garantir as elaborações complexas de tantas cabeças criativas envolvidas em um filme. Cada olhar específico compõe o todo no final. Além de que, muitos dos acordos feitos na fase de criação podem ser “atropelados” por uma filmagem tensa e fazer o filme perder, como um todo, em seu resultado final.

A equipe de arte presente no set de filmagem (direção de arte, assistência, contrarregragem, figurino e make) são os responsáveis por honrar e valorizar toda uma equipe criativa e produtora que está na batalha concebendo, produzindo, montando e depois desmontando todo o ambiente que servirá de palco para o set de filmagem. Mas esse assunto virá em um próximo post. Nos acompanhem!

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: MAQUIAGEM

O departamento de arte de um filme geralmente é enorme. Isso porque são muitas frentes, muitas demandas e muitos detalhes a serem criados e produzidos. Nesse post continuaremos a falar de caracterização, agora maquiagem.

Essa função define a pele da personagem que, junto ao figurino, realiza a transformação completa daquele que interpreta. A maquiagem no cinema vai além de aplicar produtos na pele ou no cabelo de uma pessoa. Ela envolve um conjunto de escolhas e idéias que, junto ao trabalho do ator, potencializam a narrativa do filme. Ou também podem prejudicar a experiência de imersão na história.

O corpo inteiro do personagem é pensado: rosto, cabelos, pele do corpo, unhas, transpiração, sujeira, sinais, machucados… até transformações de estruturas como nariz.

A make de beleza no audiovisual valoriza uma natureza já existente, sendo mais realista, corrigindo sinais e brilhos. Já make de caracterização cria uma história em cima do perfil psicológico da personagem, transformando, envelhecendo, criando novos cabelos, cor de olho, textura de pele… E também existe a make de efeitos especiais com próteses, machucados, cicatrizes, sangue…

A elaboração da caracterização ultrapassa o que está escrito no roteiro. Para cada universo, é preciso criar histórias pregressas, segredos, intenções… e tudo traduzido em opções estéticas e detalhes que darão complexidade visual ao filme.

Assim como no figurino, esses profissionais podem se multiplicar devido a necessidade para figuração. Ressaltamos novamente a importância de construir de forma elaborada uma figuração para um filme, fortalecendo o resultado final.

A maquiagem é indispensável para a construção da direção de arte, porém também é reconhecida de forma independente em premiações pelo mundo. Saudamos aqui a importância de caminharmos juntas valorizando nosso departamento imprescindível para dar materialidade e complexidade às narrativas audiovisuais. Lutamos pela visibilidade e reconhecimento do departamento de arte e TODAS as funções que o compõem, seja em remunerações adequadas, jornada justa e premiações ainda escassas no Brasil.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: FIGURINO

O guarda-chuva guiado pela direção de arte abrange 4 equipes responsáveis pela visualidade de um filme: a cenografia, os efeitos especiais e a caracterização de personagem – figurino e maquiagem. Na prática usual do nosso mercado, a direção de arte e a cenografia são funções acumuladas e as outras equipes possuem maior autonomia, tanto de gestão como de orçamento próprio. A boa comunicação entre essas equipes unifica o conceito que cria a relação entre personagem e espaço da maneira mais adequada para a narrativa da obra.

Nesse post vamos falar sobre o figurino. Esta função lida com uma imensa variedade de tecidos, texturas, caimentos e cores. Misturando a história da moda ao perfil psicológico dos personagens, toda a criação acontece sobre a pele e em construção conjunta com o intérprete. Tudo fica muito mais assertivo depois de se conhecer o rosto, o jeito de andar, o jeito de falar e o caminho da interpretação.

Aqui é possível desenhar e criar do zero, usar o que há disponível no mercado, criar adereços fantasiosos, reproduzir costumes de época, envelhecer, tingir… são inúmeras maneiras de construir aquilo que vai vestir e transformar o ator, junto com a maquiagem, no personagem.

Além do elenco, muitos filmes possuem inúmeras figurações e é preciso vesti-las. Essa questão é muitas vezes menosprezada porém pode comprometer e muito o contexto visual das cenas seja num perfil social, de época ou paleta de cor.

O figurino é mundialmente premiado independente da direção de arte apesar de sua relação intrínseca. Um figurino fora de sintonia pode comprometer uma direção de arte, porém uma direção de arte mediana não nos impede de apreciar um figurino bem executado.

Saudamos aqui nossas parcerias nas construções visuais ressaltando a importância de caminharmos juntas valorizando nosso departamento imprescindível para dar materialidade e complexidade às narrativas audiovisuais. Lutamos pela visibilidade e reconhecimento do departamento de arte e TODAS as funções que o compõem, seja em remunerações adequadas, jornada justa e premiações ainda escassas no mercado brasileiro.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: CLAQUETE

A claquete do seu projeto tem a identificação da direção de arte? Está cada vez mais comum a inclusão do nome desse profissional que representa um departamento inteiro responsável pela criação e execução do universo visual de um filme!

A brada apoia essas iniciativas como forma de valorizar a contribuição indispensável da direção de arte numa obra audiovisual.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: ADEREÇOS

Adereços são objetos que, por suas especificidades, precisam ser customizados, construídos ou replicados para uma determinada cena.

Podem ser elementos criados especificamente para algum personagem, como o sabre de luz em Star Wars, objetos que exijam características muito particulares na ação dramática, como uma garrafa que precise quebrar (normalmente feita e replicada em açúcar para evitar que alguém se machuque), um objeto criado particularmente para aquela história, como o troféu de um prêmio inventado no roteiro ou mesmo elementos que complementam um cenário, como uma luminária de uma época específica ou tenha certas características narrativas.

Todos os objetos e também acessórios de figurinos que são customizados e/ou construídos especialmente para um filme, seja por serem de época, imaginários, versões simplificadas de itens reais, dentre muitas outras possibilidades, são considerados adereços.

Nessa especialidade reunimos profissionais com habilidade em modelagem de isopor, fibra de vidro ou outros materiais sintéticos, escultores de couro, metal, barro e madeira, executores de traquitanas e máquinas; miniaturistas, estofadores, costureiras, bordadeiras, artesãos diversos numa listagem infinita que atendem a demandas específicas de cada universo do filme.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: ARTES GRÁFICAS

A Arte Gráfica é desenvolvida sob a orientação da direção de arte e é responsável por elaborar peças que compõem os cenários. Muitas vezes esses elementos gráficos tem papel central, isto é, são props, em cenas na tarefa de contar uma história e tornar reais ambientes, objetos, afetos e relações.

O design gráfico, nesta função, incorpora a história de cada elemento, cada peça deve se encaixar naquele contexto, personagem, época, intenções, etc. São infinitas as variáveis que influenciam as escolhas e elas dependerão desse mergulho no roteiro, no universo da trama.

Exemplos da variedade de elementos que criamos nesse universo: rótulos e embalagens, que podem ser de remédios, bebidas e cigarros, que fazem parte de uma época e não existem mais, de muito valor, que marcam um status social ou de marcas fictícias que se desvinculam da realidade fugindo de uma associação comercial; Documentos personalizados para as personagens e narrativa, como contas de luz, notas de compras, passagens aéreas, vistos, certidões, uma infinidade de possibilidades.

Cada trama, cada personagem traz os seus elementos do seu mundo, da sua realidade e a Direção de Arte cria com extremo cuidado e rigor cada elemento. Não importa se essas embalagens aparecerão de forma periférica ou central numa cena, temos o cuidado de reproduzir com detalhes cada peça visando sempre dar mais profundidade e veracidade a história que está sendo contada.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: DRESSING, DRESSING FINO E PROPS

Na organização dos objetos que compõem os cenários de um filme, podemos fazer uma subdivisão em três categorias que veremos nesse post. São elas: Dressing, Dressing fino e Props.

Dressing abrange todo o mobiliário e objetos que compõem o cenário de forma indireta, isto é, que não fazem parte pontualmente da narrativa presente no roteiro mas que ambientam todo o local a ser filmado. Na foto do post, temos a cama, a mesa de cabeceira, abajur, almofadas, lençol, cortinas, tapete como alguns exemplos.

Já o Dressing fino são objetos que “dão vida” aos cenários, como: objetos em gavetas, em caixas, malas, “sujeirinhas” da vida real como chaves, contas, papéis… Essa camada é a que traz vivência para o espaço que está sendo montado, aquilo que transborda dos personagens. Mais uma vez ilustrando: os adesivos da cama, figurinhas, bonequinhos na mesa de cabeceira, canetas…

E os Props são todos os objetos que são manuseados pelos personagens, que reforçam a narrativa e, na maior parte das vezes, estão descritos e pontuados no roteiro. Na nossa foto em questão, temos o jogo aquaball que é manipulado por um dos personagens.

A área do Departamento de Arte responsável pelos objetos é a Produção de Objetos e Decoração de Cena. Com as grandes produções, está cada vez mais comum ter uma ou mais pessoas da equipe responsáveis exclusivamente pelos props, função ainda com o nome sem tradução de Prop Master.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: INTERVENÇÃO EM LOCAÇÃO X CENÁRIO EM ESTÚDIO

Hoje vamos conversar sobre os diferentes caminhos que a produção de arte pode tomar com relação aos cenários: construção em estúdio e escolha de um locação.

Intervenções em locações são as alterações cenográficas feitas em espaços existentes para adequá-las ao projeto da direção de arte do filme. Podem ser leves como uma limpeza ou pintura ou grandes como construções de ambientes novos, acabamentos novos ou até demolições de paredes, retiradas ou acréscimo de portas e janelas, muros, jardins, telhados, etc.

Já cenários em estúdio são os ambientes totalmente falsos construídos para a ambientação de um produto audiovisual. Podem ser realistas ou abstratos, reproduzindo interiores e até exteriores com ruas e paisagens. Para muitos casos de cenários em estúdio utilizamos acabamentos de efeito para criar as perspectivas de fundo destes ambientes como painéis impressos em cicloramas (tecidos que percorrem o perímetro interno do estúdio), painéis de projeção ou de led (com imagens em movimento) e pinturas de arte.

Muitos projetos são realizados com uma mistura dos dois tipos de intervenção, tendo parte sendo filmada em estúdio e parte em locação. O tipo de espaço, o tempo que se precisa estar dentro do cenário, o maior ou menor controle necessário, o orçamento e outras questões relacionadas é que acabam por determinar a melhor opção para cada projeto.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: PRANCHA DE REFERÊNCIA

A Prancha de referência, também chamada de moodboard, é uma composição de imagens de objetos, cores, texturas, materiais, figuras e espaços que tem por finalidade transmitir imageticamente uma ideia plástica-sensorial para a construção dos ambientes cênicos, a decoração de cenários, caracterização de personagens ou qualquer materialização do universo narrativo-visual da obra a ser realizada.

Essa ferramenta pode ser usada para agrupar um clima geral do projeto da direção de arte, como uma tradução imagética do conceito de arte. Posteriormente, também se desmembra em várias possibilidades do departamento de arte de forma mais direcionada: sets específicos, fases do roteiro, caracterização e fases de personagens, eventos específicos, entre outros.

Nesse moodboard, apresentamos muitos elementos importantes para compor a direção de arte de um filme como por exemplo as paletas de cores, indicação de texturas e estilo arquitetônico/de mobiliário, sintetizados numa mesma composição, facilitando a nossa comunicação.

Essa comunicação é utilizada tanto para transmitir e/ou aprovar conceitos e ajustar ideias com cliente, direção e fotografia, quanto como forma de orientação para as parcerias de criação, servindo como instrumento para transmitir o conceito de direção de arte do projeto para todos os departamentos e setores criativos envolvidos (figurino, cenografia, produção de objetos e declaração de cena, pós-produção, etc…)

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: BALDE DE FERRAMENTAS

O que vai exatamente no nosso balde de ferramentas?

É comum no cinema determinados profissionais terem seu balde de ferramentas, como assistentes de câmera e contrarregras. Porém, com quais ferramentas básicas pode se munir uma diretora de arte? Ela precisa necessariamente delas?

Nosso departamento é mais fluído e menos estático no que tange à seleção das ferramentas com as quais trabalhamos, ao contrário muitas vezes da equipe de câmera. Muitas delas, são os contrarregras quem possuem para executar seu trabalho, como grampeador ou parafusadeira. Nada impede, porém, que possamos ter essas e outras ferramentas e utensílios que auxiliam no dia a dia do departamento, seja na pré-produção, no set ou ainda no trabalho de frente.

As ferramentas podem ser adquiridas de acordo com a necessidade de cada projeto. Há aquelas que são mais básicas: trena manual, trena elétrica, fita hellerman ou enforca gato, kit de fitas (crepe, esponjosa, siliconada), kit de chaves (de fenda, de boca, Philips, alicate), martelo e prego, canetão preto, estilete, tesoura de tecido e de papel, escalímetro, fio de nylon, barbante, pistola e cola quente, etc.

Há ainda aquelas que se adquirem para casos específicos. Se um filme tem externas noturnas onde a luz de serviço não alcança a área do set ou da base, então a lanterna recarregável é um material importante!

Vale ressaltar que alguns dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) são de responsabilidade da produção, como luvas e máscaras. No contexto de pandemia, eles então se fazem mais do que necessários e é obrigação da produção fornecer a cada profissional do departamento.

DIREÇÃO DE ARTE X PRODUCTION DESIGN

O termo Production Design surgiu nos EUA em 1939 com o filme “E o vento levou”, quando o produtor executivo entendeu que o trabalho de William Cameron Menzies era maior do que conceber os espaços cênicos. Menzies teve crucial importância para manter a integridade narrativa e visual do filme, diante das crises pelas quais o projeto passou, incluindo a troca de seu diretor. Já no Oscar, a Academia adaptou o prêmio de Best Art Direction para Best Production Design apenas em 2012!

Aqui no Brasil, cada vez mais frequente, tentamos estabelecer a correspondência entre as terminologias, seja para preencher fichas internacionais como o imdb, como em coproduções internacionais ou para assimilar a entrada dos grandes players.

Sabemos que cada país tem formas diferentes de organização e que o departamento de arte sofre grandes alterações, tanto de estrutura como de nomenclatura, a exemplo da Itália que utiliza o termo Cenografia para o conceito ampliado da Direção de Arte (quer saber mais? volte no post cenografia x direção de arte). Vemos essa questão também no mercado brasileiro entre os diferentes estados e também entre os meios: TV, cinema, publicidade.

Nos debates sobre o tema, há quem defenda que as funções Direção de arte e Production design são equivalentes, dentro das particularidades de cada mercado, uma vez que é esse profissional o responsável pela criação do conceito visual do filme. Porém, existem filmes atuais, produzidos no Brasil, que possuem crédito de Production design e também de Direção de Arte, criando assim uma nova organização do departamento. Vemos ainda profissionais contratadas como Production Designers para criar um conceito que será executado posteriormente por outra equipe.

A questão que poderia ser uma simples tradução vem se transformando numa equação complexa e é preciso ter atenção para não enfraquecer a luta pela valorização da Direção de Arte.

Atentamos também que vários perfis usam o termo Design de Produção nas creditações de filmes, porém essa nomenclatura não existe ainda no Brasil. É uma tradução direta e literal para Production Design que não encontra seu significado.

Vamos aprofundar essa reflexão?

CENOGRAFIA X DIREÇÃO DE ARTE

É comum a associação entre direção de arte e cenografia como sinônimos. No entanto, a cenografia para projetos audiovisuais é hoje um dos braços da direção de arte.

A cenografia é o pensamento e desenvolvimento do espaço construído a serviço da obra audiovisual, podendo contribuir narrativa e sensorialmente com a percepção desta. O espaço cênico ajuda a construir o contexto histórico, social e psicológico no qual a ação se desenvolve.

A cenografia audiovisual se constitui como um campo de saber a partir das técnicas desenvolvidas pelas artes cênicas e está intimamente ligada à arquitetura como compreensão do espaço. As referências para uma proposta de cenografia podem abranger os saberes diversos e se alicerçam no entendimento e escolha dos materiais, desenvolvimento e acompanhamento do projeto técnico.

Com o desenvolver do fazer cinematográfico, essa função foi integrando todo o universo espaço-visual, incluindo também efeitos e a caracterização dos personagens, dando origem a uma função específica que chamamos hoje de direção de arte de um filme.

A função da cenografia permanece imprescindível dentro do departamento de arte, principalmente em projetos que requerem construções cenotécnicas em estúdios, cidades cenográficas ou intervenções em locações pré-existentes. Cabe à cenógrafa o projeto e acompanhamento da execução técnica, coordenando toda uma equipe de cenotécnicos, pintores, serralheiros, estofadores, etc e o que mais a proposta demandar.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: LEQUES DE CORES

Os leques de cores que conhecemos e usamos cotidianamente são, muitas vezes, catálogos industriais de cores com códigos alfanuméricos acompanhados de nomes. Tintas industriais entram nesse parâmetro. Cada marca desenvolve seus produtos, seja para alvenaria, metal, madeira, que são de uso doméstico, ou ainda cores específicas para a indústria, como a automobilística por exemplo.

Geralmente em um filme nos deparamos com esses leques, pois devemos escolher as cores das paredes de locações e estúdios que queremos recobrir na pintura de lisa, para que depois possa entrar a pintura de arte.

Além desses catálogos para o uso doméstico, há aqueles específicos, como o leque da Pantone, voltado principalmente para a arte gráfica. A Pantone não é um sistema cromático e sim uma empresa voltada à indústria da cor. O que sabiamente eles criaram nos anos 50 foi um parâmetro internacional de catalogação da cor, que tornou a empresa famosa nesse ramo. Por isso que a Pantone é utilizada por designers e outros profissionais dos mais diversos países.

Há ainda leques de cores de alcance cultural. Um caso exemplar é da empresa DIC Corporation, do Japão, fundada no final do século XIX. Eles criaram, assim como muitas empresas, um código alfanumérico para catalogação das suas cores de uso doméstico, nas artes gráficas ou na indústria. Cientes da importância da cor no cotidiano japonês (em especial na arte têxtil), eles convidaram, décadas depois, um pesquisador da Color Science Association of Japan para desenvolver uma pesquisa sobre as cores historicamente relevantes do Japão.

O resultado foi o leque DIC Color Guide Traditional Colors of Nippon, composto por 300 cores, cada uma delas com: código alfanumérico, sua correspondência nos sistemas RGB, CMYK, Munsell e HTML, seu nome original tradicional, seu nome em inglês, e a breve história da cor, geralmente de origem vegetal. Ou seja, as cores da natureza que há séculos tingem seda, algodão, lã, linho e a paisagem social do Japão. Mais tarde, desenvolveram também leques das cores tradicionais da China e da França.

Com esses leques e outros à disposição, escolhemos aqueles que convém melhor às nossas indagações estéticas!

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: DECUPAGEM DE ARTE

Decupagem ou Mapa da Arte é um documento que contém todas as informações sobre o que é preciso produzir para cada cena, seguindo a descrição do roteiro e acordos feitos em reuniões. Serve também de base para a preparação do orçamento e do planejamento logístico do departamento de arte.

Cada profissional tem sua própria metodologia, mas é através dessa análise que o roteiro será traduzido num esquema prático das demandas do departamento. Nela, concentramos diversas informações básicas e também variações das necessidades de cada projeto. Citamos algumas: número da sequência, luz prevista (dia ou noite/ interna ou externa), ação principal (opcional como referência), cenário/set, personagens envolvidos, figuração presente, props, dressing geral, cenografia, indicações de figurino e maquiagem, contra-regragem, efeitos especiais, comida de cena, artes gráficas, efeitos visuais, veículos, adereços, serviços terceirizados, detalhes técnicos e observações relevantes…

Depois de concluída a decupagem, esse mapa se desdobra em muitas possibilidades: agrupar por locações, por semana (segundo o plano de filmagem) e criar listas específicas para cada função do departamento de arte ali contemplada.

Este trabalho de decupagem (a organização em forma de tabelas e lista) geralmente é executado pela assistente de arte.

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: PALETA DE CORES

Hoje nosso tema é cor! A paleta de cores é um dos processos de criação na direção de arte. Algumas diretoras de arte pensam a cor como projeto e apresentam sua proposta à direção. Em outros casos, a direção já chega com uma proposta de cor e, a partir daí, as DAs desenvolvem como essa paleta pode ter alcance no trabalho de todo o departamento de arte, seja de forma física, gráfica ou até mesmo simbólica. Também existem casos em que a paleta de cores não se desenha de forma premeditada no início do projeto e se desenvolve organicamente à medida em que o processo de criação do filme progride.

Cada DA trabalha da sua maneira e cada projeto tem uma forma de relacionar cor, imagem e narrativa. O importante é ter conhecimento dos impactos causados pelas cores e perceber que essas escolhas podem seguir vários caminhos: seja em concordar com combinações ou definições culturalmente consolidadas; seja em assumir uma postura mais radical na proposição de novas combinações e relações; seja no uso gráfico da cor, sem associar qualquer sentido emocional, psicológico, moral ou simbólico à narrativa; seja no seu uso irônico, que coloca em xeque o que a narrativa propõe de antemão; dentre outros. Para as cores não há regras e a história do audiovisual nos apresenta essas e outras estéticas.

A concepção da cor e seu comportamento no projeto de audiovisual é uma premissa da Direção de Arte. Porém, em meio à profusão de páginas sobre esse tema, é importante lembrar que as paletas de cores extraídas de um frame ou uma foto nem sempre representam somente o conceito concebido pela direção de arte!

Colorizem-se!

SÉRIE “POR DENTRO DA ARTE”: CONCEITO DE ARTE

Inauguramos hoje mais uma série de publicações da brada! Com o intuito de apresentarmos os principais temas e definições que envolvem o departamento de arte, criamos a série “Por dentro da arte”. Serão pílulas de conteúdo para que as pessoas possam entender melhor esse departamento rico, diverso e multidisciplinar!

Para esse post inicial, claro que não poderíamos deixar de introduzir algo tão necessário: o conceito de arte. Afinal, o que seria isso?

Conceito de arte é a proposta para o universo espaço-visual do filme. Reúne as idéias da direção de arte após diversas leituras do roteiro e conversas com direção, fotografia e produção. Esse conceito engloba a definição do estilo, época, arquitetura, caracterização, paleta de cores, dentre outros apontamentos que serão destrinchados nessa série de publicações, e será uma referência para todos os desdobramentos do departamento: cenografia, figurino, maquiagem, produção de objetos, produção de arte, arte gráfica, efeitos visuais…

Acompanhem essa série, pois falaremos de muitas definições para todo mundo ficar “por dentro da arte”!

MATERNIDADE NO AUDIOVISUAL

Sem romantizar esse momento de filhos e filhas nos ambientes de trabalho, trazemos nesse post mais do que flores e fofuras: reflexão. Queremos abordar a luta e a resistência das profissionais mães do audiovisual.

Para além das questões de equidade de gênero que nós mulheres buscamos devido ao machismo estrutural (diferença salarial exercendo a mesma função, ausência de mulheres em cargos de liderança em projetos de grandes orçamentos, menor visibilidade, creditação e premiação em trabalhos, sobrecarga física e mental com as tarefas domésticas e responsabilidades com os cuidados dos filhos que nem sempre são divididas igualmente), somos frequentemente discriminadas no trabalho pelo simples fato de sermos MÃE.

Infelizmente não é sempre que nos deparamos com espaços e pessoas acolhedoras no meio audiovisual e com condições adequadas de trabalho, por isso é alto o índice de mães que abandonam essa profissão. Não queremos desistir de nossas carreiras, porque ser mãe não significa ter que parar.

Quando levamos nossos filhos para ambientes de trabalho, ordenhamos o leite e rebolamos para levá-los/buscá-los na escola, nem sempre é por escolha mas por necessidade. Quando nos organizamos com reservas financeiras, cronogramas/planejamentos e contamos com uma rede de apoio (escolas/creches, familiares, amigos, vizinhos), quando insistimos em trabalhar no audiovisual é por que amamos o que fazemos e também queremos realização profissional.

É necessário encontrar empatia, solidariedade e acolhimento em todo o meio audiovisual. Com esse suporte, mães conseguem retornar aos seus cargos e profissões após o nascimento de seus filhos. Não queremos ter medo de ser mãe e perder nossos empregos, não queremos esconder nossas barrigas ou filhos, pois sentimos orgulho da maternidade. Somos nós, mães, que devemos escolher quais projetos conseguimos ou não realizar.

Nesse dia das mães desejamos mais SORORIDADE, OPORTUNIDADES E RESPEITO.
Tornar esse dia florido é fácil, difícil é manter o jardim o ano todo.

ONDE ESTÃO AS MULHERES NO OSCAR DE BEST PRODUCTION DESIGN?

O Oscar é uma das premiações mais aguardadas do ano e o prêmio de maior prestígio em Hollywood. No quesito Best Production Design, reconhece a excelência da direção de arte de um filme.

Os termos utilizados pela Academia para os nomeados na arte são Production Design e Set Decorator.

Com frequência, ao receberem a estatueta, a dupla agradece e reconhece o departamento de arte como um todo, pois o resultado só acontece com a colaboração de muitos talentos que juntos se dedicaram à jornada.

Nos filmes indicados desste ano, temos uma particularidade comum a todas as obras: production designers homens e set decorators mulheres! Achamos curioso que também na indústria internacional, quanto maior a produção, maior a tendência em ter homens em posição de liderança, coordenando o departamento, com mulheres quase sempre em posições secundárias.

Na última década, apenas 3 mulheres foram contempladas com o Oscar de Best Production Design e 16 foram indicadas, num total de 50 production designers.

Lembrando que essa colocação não questiona o trabalho nem o talento de ninguém, apenas aponta para uma realidade com pouca diversidade.

SOBRE DIREÇÃO DE ARTE

“Achamos fundamental ressaltar a importância da Direção de Arte como também criadora de linguagem, transformando o roteiro em realidade através da criação e composição da imagem cinematográfica junto a Direção e a Direção de Fotografia.

Diretores de Arte são responsáveis pela estruturação plástica e espacial que conforma a obra audiovisual em suas atmosferas, ambientes e caracterização de personagens, através do manejo de elementos visuais e estímulos sensoriais por meio do uso consciente de cores, texturas, linhas e volumes.

A direção de arte como forma poética e o audiovisual como meio expressivo modelam a forma como corpos e olhares são afetados pelo mundo, por meio das visualidades e sonoridades de suas situações cotidianas, da lembrança de experiências vividas, e das imagens projetadas pelo e no nosso imaginário”.

Esse é um trecho importantíssimo da nossa Carta de Apresentação e Reivindicações para ações da brada. A escrita da carta nasceu da necessidade de deixarmos cientes festivais, mostras, espaços de discussão e exibição audiovisual, fóruns profissionais, etc, sobre a importância da direção de arte como pilar da criação espaço-visual no/do audiovisual.